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Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo II

Chapter 2 No.2

Word Count: 3374    |    Released on: 06/12/2017

culo e meio; porque as manifesta??es dessa decad

as, como a da Encarna??o ou a dos Martyres, caiadas, pulidas, alindadas, onde n?o móra um só pensamento de Deus. A arte entendeu-se assim por largos dias. Ao passo que se imprimia a Poetica do padre Freire, que se coroava a Osmia, e que se publicavam por ordem superior as poesias, assim chamadas, de Ribeiro dos Sanctos, encostavam-se columnas disformes pelas paredes de um pio armazem, conhecido vulgarmente pelo nome de igreja de S. Domingos, ladeiavam-se com ellas os portaes dos edificios publicos e as frestas do atrio tyscio do convento do Cora??o de Jesus. No meio daquellas semsaborias architectonicas parecia sentir-se uma tendencia instinctiva para a regenera??o; mas essa tendencia, que buscava uma solu??o ao problema nas tradi??es da arte romana ou antes grega, n?o podia lá encontrá-la. Fora o renascimento; fora a admira??o dessas tradi??es, at

curuchéus, partem-se columnas, derrocam-se muralhas, quebram-se lousas de sepulturas, e v?o-se apagando todas as provas da historia. Faz-se o palimpsesto do passado. Corre despeiado o vandalismo de um a outro extremo do reino, desbaratando e assolando tudo. Comico perfeito, desempenha todos os papeis, veste todos os trajos. Aqui é vereador, alli administrador de concelho: ora é ministro, logo deputado: hoje é escriptor, ámanhan funccionario. Corre na carruagem do fidalgo, faz assentos de debito e credito no escriptorio do mercador, dá syllabad

no porte, pontual na cortezia. Encontrá-lo-heis nas sallas requebrando as damas, dan?ando, tomando chá; no theatro palmeiando com luvas brancas os lances dramaticos. Entende francês e leu jà Voltaire, Pigault-Lebrun e os melho

ninhádegos, em servos de gleba, em direitos de osas, em supersti??es; catou, em summa, todas as vergonhas e deshonras do passado que p?de e soube, entresachando-as com senten?as e logares communs do cathecismo politico de Ramon Salas e, por uma logica incomprehensivel, por uma logica sua, chamou os homens do alvi?o e da picareta e come?ou a derribar, victoriado pelo povo. Só elle, immovel no meio da mobilidade do nosso tempo, no meio das opini

as profana??es. De todos os angulos do reino se alevantam brados de homens generosos, que lamentam a ruina dos velhos edificios, a profana??o das sepulturas, a destrui??o de todas as memorias da arte e da historia. Quem hoje quizesse escrever as biographias dos nossos homens illustres, talvez já n?o podesse dizer onde actualmente jazem os restos da maior parte delles. O bra?o omnipotente do vandalismo estendeu-se par

s ruinas, porque essa pedra era valiosa memoria. Provavelmente os economistas da alavanca, os philosophos da picareta riram a bom rir do desvario daquelle hespanhol fanatico. A lapide sepulchral de um dos homens mais sabio

ivili

mas os bons desejos n?o faltaram. Uma pra?a no logar onde estivera Sancta-Cruz; uma pra?a cal?ada com os fragmentos dos rendados umbraes do velho templo, com as lageas quebradas dos tumulos de Affonso Henriques e de Sancho I e dos demais var?es illustres que alli repousam! Ha ahi, porventura, quem avalie a sublimidade de ta

enque, da sua pyramide de Tehuantepec; a India dos subterraneos de Ellora e de Elephanta, e até, os habitantes barbaros da Australia ter?o que mostrar aos estrange

ga, foi deturpada, n?o nos importa por quem, e o seu maravilhoso claustro ludibriado com tapumes caiados e convertido em dormitorios for?amente humidos e mals?os. A Batalha, Alcoba?a, o convento da ordem de Christo em Thomar cáhem em ruinas, e diz-se-?que importa?? Barbaros! Importa a arte, as recorda??es, a memoria de nossos paes, a conserva??o de cousas cuja perda é irremediavel, a gloria nacional, o passado e o futuro, as obras mais admiraveis do engenho humano, a historia, a religi?o. Vós, homens da destrui??o, dos alinhamentos, dos terreiros,

ardos, apoderando-se da Italia, ás formosas obras da architectura greco-romana. Deixavam-nas perecer; porém n?o as

ais umas casas? Sancta Marinha encerrava memorias anteriores á monarchia, e a parochia de S. Martinho prendia-se com a historia da grande crise por que Portugal passou nos fins do XIV seculo. Mas de que momento é essa considera??o, se attendermos a que lá, onde estiveram os dous templos ricos de idade e de tradi??es, se podem construir duas moradas bem pintadas, bem alvas exteriormente, com sua beira

?o ser uma provincia d'Hespanha, porque salvou Lisboa de cahir nas m?os d'el-rei de Castella. Se isto se tivesse realisado, o reino estava perdido. Considerada a semelhante luz, a muralha de D. Fernando era, talvez, o nosso mais importante monumento historico. O progressivo accrescimo da capital tinha-a em grande parte destruido; mas restava ainda, além de outros, um lan?o importantissimo. Era o angulo que fechava a cidade pelo lado do bairro dos judeus. Por este angu

li?a. Uma pyramide de repolhos substituirá o adarve, por onde, em noite sem lua, se viam a espa?os scintillar as armaduras dos escudeíros ou cavalleiros idos em sobrerolda a vigiar as roldas dos besteiros do conto da cidade, quando pela terceira vez no reinado de D. Fernando os castelhanos a accommettiam com grande poder. Alli, no sitio daquella porta, po

collarinhos e peitilhos engommad

os outro, em cujos olhos chammejava a indigna??o, clamar altamente contra a barbaria com que se deixavam estragar no mosteiro de Belem varios quadros magnificos de eschola portuguesa, nos quaes os passaros, entrando pelas frestas mal

quê e para quê annullaes vós essa riqueza? Dado que representasse um capital improductivo, com que intuito o deitaes fóra? N?o o s?o, porém, na sua maxima parte, os monumentos. Quando a arte ou os factos historicos os tornam recommendaveis, convertem-se em capital productivo. Calculae quantos viajantes ter?o atravessado Portugal neste seculo. De certo que n?o vieram cá para correrem nas nossas commodas diligencias pelas nossas bellas estradas, ou navegarem nos nossos rapidos vapores pelos nossos amplos canaes; de certo que n?o vieram para aprenderem a agricultar com os nossos agricultores, nem a fabricar com os nossos fabricantes; ma

nto da historia ou da arte, remettessem uma breve nota, individuando as circumstancias do edificio destruido e o nome do arrasador, quer este fosse magistrado ou funccionario publico ou municipal, quer fosse individuo particular. Quizeramos depois que essa breve nota, sem reflex?es, sem affrontas, estampada em todos

radi??es, nem sequer, emfim, dos interesses materiaes que resultam e h?o de resultar da conserva??o dos monumentos? Que importa isso áquelles para quem os horisontes da vida s?o exclusivamente os horisontes da terra? Nada. Ririam dess

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