Eurico o presbytero
rovar os hymnos compos
e Toledo I
os passeios da tarde, viam-no chegar ás raizes do Calpe, trepar aos precipicios, sumir-se entre os rochedos e apparecer, por fim, lá ao longe, immovel sobre algum pincaro requeimado pelos soes do estio e poido pelas tempestades do inverno. Ao lusco-fusco, as amplas pregas da stringe d'Eurico, branquejando movedi?as á mercê do vento, eram o signal de que elle estava lá, e, quando a lua subia ás alturas do céu, esse alvejar de roupas tremulas durava, quasi sempre, até que o planeta da saudade se atufava nas aguas do Estreito. D'ahi a poucas horas, os habitantes de Carteia que se erguiam para os seus trabalhos ruraes antes do alvorecer, olh
vam onde elle apparecia; porque, pae commum daquelles que a providencia lhe confiara, todos para elle eram irm?os. Sacerdote do Christo, ensinado pelas largas horas de intima agonia, esmagado o seu cora??o pela suberba dos homens, Eurico percebera, emfim, claramente que o christianismo se resume em uma palavra-fraternidade. Sabía que o e
portas do templo, e havendo já o psalmista entoado os canticos matutinos, o ostiario buscava cuidadoso o sacerdote, que parecia ter-se esquecido da hora em que devia sacrificar a hostia do cordeiro e aben?oar o povo, foi encontrá-lo adormecido juncto á sua lampada ainda accesa e com o bra?o firmado sobre um pergaminho cuberto de linhas desiguaes. Antes de despertar Eurico, o ostiario correu com os olhos a parte da escriptura que o bra?o do presbytero n?o encobria. Era um novo hymno no genero daquelles que Isidoro, o celebre bispo de Hispalis, introduzira nas solemnidades da igreja goda. Ent?o o ostiario entendeu o mysterio da vida
horas que lhe sobejavam do exercicio de seu laborioso ministerio n'uma obra do Senhor? N?o deviam esses hymnos da soledade e da noite derramar-se como um perfume ao pé dos altares? N?o completava Eurico a sua miss?o sacerdotal, revestindo a ora??o das harmonias do céu, estudadas e colhidas por elle no si
lhor. ás rugas, porém, da fronte do presbytero, semelhantes ás vagas varridas pelo noroeste, respondia um canto lugubre de colera ou desalento, que rebramia lá dentro, quando a sua imagina??o, cahindo, como a aguia ferida, das alturas do espa?o, se rojava pela morada dos homens. Era este canto doloroso e tetrico, o qual lhe transsudava do cora??o em noites n?o dormidas, na montanha ou na selva, na campina ou no estreito aposento, que elle derramava em torrentes de amargura ou de fel sobre pergaminhos que nem o ostiario nem ninguem tinha visto. Estes poemas, em que palpitava a indigna??o e a dor de um animo generoso, eram o Gethsemani do poeta. Todavia, os virtuosos nem sequ
Quando um novo affecto veio espremê-la é que sentiu que n?o se havia cerrado e que o sangue manava ainda, porventura, com mais for?a. Um amor de mulher mal correspondido a tinha aberto: o amor da patria, despertado pelos acontecimentos que rapidamente succediam uns aos outros na Hespanha despeda?ada pelos bandos civis, foi a m?o que de novo abriu essa chaga. As
s que amea?avam rebentar por toda a parte e que a muito custo o novo monarcha ía affogando em sangue. Ebbas e Sisebuto, filhos de Witiza, Oppas, seu tio, successor de Siseberto na sé de Hispalis, e Juliano, conde dos dominios hespanhoes nas costas d'Africa, do outro lado do Estreito, eram os cabe?as dos conspiradores. Unicamente o povo conservava aínda alguma virtude, a qual, semelhante ao liquido transvasado por cendal delgado e gasto, escoara inteiramente atravez das classes superiores. Opprimido, to
lla gera??o degenerada, ou derramava sobre o pergaminho em torrentes de fel, d'ironia e de colera a amargura que lhe trasbordava do cora??o ou, recordando-se dos tempos em que
Romance
Romance
Werewolf
Romance
Modern
Billionaires