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Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo II

Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo II

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Chapter 1 No.1

Word Count: 2737    |    Released on: 06/12/2017

se ampla colheita de renome, de ben??os, de vantagens de toda a especie para o escriptor que alevanta a voz a favor do bo

ucro, respeito, ben??os s?o para aquelle que afaga com palavras mentidas as preoccupa??es populares; para aquelle que, sem discrime, louva, adorna ou repete como echo as opini?es que ao redor delle, talvez por cima delle, esmagando-lhe a consciencia, passam como torrente. Tumultua o genero humano correndo ao longo dos seculos: o louvador, ás vezes o promotor do tumulto, se a natureza lhe concedeu imagina??o e talento, vai adiante como capit?o e guia da gera??o que corre ebria: incita-a, arrasta-a, deslumbra-a. As cor?as voam-lhe do meio do tropel sobre a cabe?a.

z troveje: embora as suas palavras devam fazer vibrar todas as cordas do cora??o e despertar todas as convic??es da alma: n?o espere ser ouvido. As multid?es continuar?o a passar desattentas. Escarnecido, amaldic?oado talvez,

s cujas esperan?as n?o v?o além dos umbraes do cemiterio e que ahi veem, n?o o termo da sua perigrina??o na terra, mas o remate da existencia, que sigam a facil estrada. Nós, porém, que guardamos para além da vida as nossas melhores esperan?as, tomaremos o bord?o do romeiro e iremos rasgar os pés

numentos da historia, da arte, da gloria nacional, que todos os dias vemos desabar em ruinas. Esses que julgam progresso apagar ou transfigurar os vestigios venerandos da antiguidade que sorriam das nossas cren?as supersticiosas; nó

isticos como historicos, de Portugal, póde dividir-se em duas epo

e as manifesta??es ruidosas e, digamos assim, externas das epochas de grandes transforma??es vem muito depois de iniciadas estas. No seio da formula social que vai

lor dellas e o influxo que deviam ter no futuro, era assás limitado. A inicia??o estava feita, mas o fogo tinha de lavrar muito tempo debaixo da cinzas. Exteriormente, a maior parte das reformas, destoando de habitos inveterados, repugnando n?o raro a opini?es vulgares, devendo ter resultados remotos, que o commum dos espiritos n?o sabiam antever, nem podiam apreciar, definharam-se ou morreram logo que se qu

a litteratura á Luiz XIV, cuja influencia em Portugal come?ara a despontar no horisonte desde o come?o daquelle seculo e que, depois, os nossos innocentes Arcades acceitaram como emana??o legitima da arte grega e romana. Peior do que na sciencia, a regenera??o litteraria, de

osto corrompido da architectura italiana, que era a seguida em Portugal, fez substituir um gosto mais severo, mais util e mais mesquinho. Era o homem politico, o homem da vida practica dirigindo as artes: eram as artes reduzidas pura e simplesmente a um ramo de administra??o. Compare-se o caracter geral do convento de Mafra com o das grandes obras do marquez de Pombal, o plano da nova Lisboa, o Terreiro do Pa?o, a Alfandega, o Arsenal da Marinha, a parte moderna dos edificios da Universidade de Coimbra. Em Mafra, achar-se-h?o a exagera??o de ornatos e os primores do cinzel, mas nenhuma inspira??o verdadeiramente nobre e grande; achar-se-ha o desmesurado supprindo o sublime: nas obras do marquez, só se encontram largas moles desadornadas, edificios

mas graves e simples, que adoptara, para os fogaréus e burriés e repolhos e espiraes e grinaldas da epocha anterior. Quereis saber o que ella foi d'ahi ávante? Olhae para o mais notavel edificio do subsequente reinado, para o convento do Cora??o de Jesus. Como o pensamento unico do governo era desmentir o bom, o mau, o indifferente, tudo, em summa, quanto se fizera no antecedente reinado, buscou-se restaurar a architectura de Mafra, menos a vastid?o, menos a opulencia. Caricatura de caricatura. Aquelles portaes microscopicos, aquellas columna

edia legara aos tempos modernos. As gera??es subsequentes, educadas n'uma adora??o irreflexiva de tudo quanto viera da Grecia e de Roma pagans, n?o podiam comprehender a sublime magestade e, digamos assim, o espiritualismo da arte christan. Os pa?os, os castellos, as pontes, os cruzeiros, as galilés das pra?as, as portas, as torres, os pelo

apiteis, abobadas, torres, portaes, arcarias, claustros, tudo foi caiado, dourado, enfeitado, estragado. Procurae na maior parte das nossas sés, das nossas collegiadas, das nossas velhas parochias, um desses pilares polystylos, desses capiteis e cimalhas rendadas, desses bocetes e penduroes variados, dessas gargulas ás vezes insolentes, ás vezes terrificas, ás vezes finamente epigrammaticas, e nada achareis do que foi. Aquelles livros de pedra, complexos como os poemas de cavallaria, ingenuos como os poemas do Cid ou dos Nibelungen, converteram-se em palimpsestos donde se raspou a historia das cren?as, dos costumes, dos trajos, das alfaias de antigas eras; onde se apagaram os vestigios de successos notaveis, de dramas populares, de lendas poeticas, e até retratos unicos de var?es singulares. Nesses livros preciosos, em vez do seu primitivo conteúdo, só

inspirou essas concep??es grandiosas como que se alevanta d'entre as devasta??es perpetradas pelo camartélo, pela picareta e pelos boi?es de cal delida, e apesar de se haverem dirigido sem tino, sem gosto, sem harmonia as restaura??es dos edificios que as inj

s paes destruiram por ignorancia e ainda mais desleixo: destruiram, digamos assim, negativamente: nós destruimos por idéas ou falsas ou exageradas; destruimos activamente; destruimo

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