A Morgadinha dos Cannaviaes
o lado de um pequeno quintal, objecto dos cuidados e das divers?es do proprieta
em; viam-o ámanh? já a mais de seis leguas de distancia; acotovelava um dia a multid?o nas ruas e feiras da cidade; no outro ent
das postas; e Deus sabe quando de vez acabar?o. Mas Cancella era além d'isso um recoveiro de uma especie rara e superior. Em todas as profiss?es ha sempre, no meio do vulgo, que as exerce sem enthusiasmo nem consciencia dos g?sos, superiores aos interesses, que ellas podem offerecer, certo grupo de escolhidos, qu
barateza relativa das recovagens operadas por este meio primitivo, proporcionavam-lhe algumas occasi?es d'isso, as quaes o Cancella
da fechada; escutou á fechadura, mas n?o p?de verif
omsigo.-Vejamos se est
to, deparou-se-lhe outra casa de aspecto n?o menos rustico do que a primeira, uma pequ
que seria o Cancella, de quem o proprietario era, além de vizinho, confiden
magens de santos e santas em caixilhos de todos os tamanhos. Mais do que os outros enramalhetado e enfeitado, via-se alli o bento regist
s já. Os missionarios, certos evangelisadores em terras onde a palavra do Evangelho n?o é chave que abra a porta, pela qual entraram os martyres no céo, lá andavam por aquelle tempo, na aldeia onde se passa a ac??o d'esta historia, plantando a vinha, que elles chamavam do Senhor; a
?o Baptista, a metade feminina do casal em quest?o, tomára por modo de vida as devo??es da
profanos por uma colcha de chita de largas e folhudas ramagens, tomou pelo corredor, que conduzi
soa encontrou na cozinha, comquanto falasse com
instrumento, o classico zabumba, que nas nossas aldeias tem ainda hoje aquelle nome.-Era muito para vêr e admirar a mestria, com qu
batina com a sua cara metade, sujeitando-lhe todas as suas ac??es, mas salvando sempre o direito de protestar pela palavra. Ganhava a vida no officio de hortel?o e, aos domingos e dias de festa, á f?r?a de rufos e pancadaria na retesada pelle do seu companheiro inseparav
é P'reira, e a mesma a quem ouvimos
ar apagado e vazio, falava, gesticulava e mudava de tom desde a nota mais grave e rouca da sua escala de barytono, até o mais agudo e desafinado falsete. A lingua pegava-se-lhe ao céo da b?ca, difficu
o rapto artistico se apoderava d'elle; usava de umas suissas que pareciam tentar sumir-se-lhe pela b?ca dentro; tinha longos bra?os, acc
om elle, o homem mon
horta... e a mulher a papar missas e novenas lá por essas igrejas... Ora, senhores, que é forte desgra?a a minha! é forte desgra?a!... Bem morria eu de frio e de fraqueza, se n?o f?sse aquelle quartilhito... o ultimo, que sempre me deu sua aquella... sim... sempre me conchegou o estomago. N?o que dizem que o vinho que faz, que o vinho que acontece... Pois casem-se com uma mulher que vá de madrugada para a igreja e venha de lá quando muito bem lhe pare?a, e ver?o depois se o vinho n?o serve de cobrir muita lazeira que se soffre... ver?o depois... Ora, senhores, que é forte desgra?a a minha!... Diz que Deus que disse, que a mulher que era a carne da nossa carne e o osso do
io foi interrompida pela appari??o d
a um bocadinho de paciencia. é um instante em
intelligencia e de do?ura, e com os mais formosos cabellos louros que ainda enfeitaram uma cabe?a infantil. N?o havia n'elles sombra, que desvanecesse aquella c?r deslumbrante;a do semblante o suave e affectu
do Cancella, ou Lindita, como geralmente na aldei
uintal, e dirigia-se com ella para o lar, que o descuido e a in
s olhos em Augusto,
. Augusto?! E o meu padr
voltou a cabe?a e fitou em Augusto
para este desaforo!... Venho para casa, morto de trabalho... e vejo o lar apagado! A minha mulher está a ouvir missa, a confessar-se, a commungar... a toma
ja depressa... Olhe; o lume já está accêso-dizia
es, Lindita,-disse Augusto
vim das prêsas, ond
P'reira-tambem n?o te ha
eu n?o saí de casa co
oisa que conforte... Inda se tu beb
adrinho! Que
que o vinho é bebida amaldi?oada, que todos
vae dizer?-interrompeu
r causa d'aquellas pancadas no recebedor... é que nenhum d'esses santalh?es, d'esses missionarios me teem que ensinar n'esse ponto... Os missionarios!... Eu, um dia, tiro-me dos meus cuidados e dou-me ao trabalho de lh
erver; verá que dentro em p
m paga da boa vontade, com que tra
im?
que em poucos dias te dará
!... Angelo
vinhaste
de ser? Mas diz que...
mos cá pe
a ve
z n'esta cart
a, fitando porém o papel com o
êr se ainda te recordas d
mas, o caldo d
que o ha de aquecer
carta das m?os de Augusto, come?o
roseguiu no
oisa... Disse que por este deixarás pae e m?e. Ora a santa madre igreja é m?e, é, sim, senhores; que tem lá isso? mas n?o é mais m?e do que a outra m?e... e ent?o... se
eitura de Ermelinda foram interrompidos
iro pag
ica a de
ma o lim
esca li
ntada e herculea do recoveiro Cancella, pae da Ermelinda. Cancella, ou o Jo?o Herodes, que assim tambem lhe chamavam por ter creado, nos autos em que era
s que, sem amea?arem de insultos apopleticos, d?o riqueza ao sangue, vigor aos muscul
arecia augmentado sob o duplo arco de bastas sobrancelhas, que, quando contrahidas,
descobrindo-lhe duas fileiras de alvissimos e bem dispostos dentes,
al costume na aldeia) procurou com a vista alguem, que mais que tudo trazia na memor
ra dos labios e pousou-lhe nas faces dois s?fregos e ruidosos
nsola que nem o copo de agua que a gente, em dias de calma, pede á borda da estrada, quando se leva a b?ca secca e queimad
va-o, C
. Ai! Isto é de ralar o cora??o de uma pessoa... Eu bem sei que em boa companhia me fica a pequena. Aqui o compadre, tirante lá a sua aquella pelo sumo da uva... Quantos foram já hoje, compadre, hein?... mas, tirante isso, é homem de bem: a comadre é uma santa, que só tem o defeito de querer ser santa devéras... mas emfim... tudo isso n?o obsta; uma coisa é uma pessoa saber o que lhe vae por casa, outra... Tremem-me as pernas sempre que entro na aldeia. A primeira alma de Christo, que encontro, estou sempre a vêr quando me vem d
isfar?ou como envergonhado d'aquella
erturba??o do pae e di
pensar n'essas coisas q
ante, isso ha; muita inglezinha loura, bonitas como anjos, mas cabellos assim dourados?-e passava com orgulho os dedos pelos bastos cabellos de Ermelinda-mas uma pelle assim delicada,-e afagava-lhe com as m?os a face, quasi a mêdo-mas olhos assim a metterem-se mesmo pelo cora??o á gente?-e beijava-lh'os com paix?o-isso é que eu ainda n?o vi, nem tenho de
Angelo es
stiados, como tomam aquelles senhores da cidade, quando conversam com uma pessoa rustica... Qual historia! Elle tudo quer saber, tudo pergunta... isso é um nunca acabar, quando lá me pilha... Ent?o como vae fulano? e sicrano? e se já se fez aquella casa, e se já acabou aquella obra, e se já casou este,
u o pae com ol
e. Eu por um amigo... e com mil demonios, até por um inimigo, se n?o f?r soberbo, vamos lá, dou a camisa do corpo... Mas o mundo... Bem, bem, eu cá me entendo. Vamos á mi
adre um olhar de distrac??o e um aceno de m?o, e voltára de
as lamenta??es; o compadre, emquanto desenfardelava a mala
ui está um livro para si, sr. Augusto... Mas deixe lá, compadre, que a minha pequena arranja-lhe n'um ai algumas ber?as... Tambem eu est
'esta casa-disse uma voz
do abbade-res
, typo de beata, que dispensa descrip??o, que regressa
o Jo?o Cancella, cont
i beijar a m
udou-a aff
alqueire, e, voltando-se para a mulher, disse-lhe, a
sim, mulher! Eu n?o me casei para que tu me andes a ganhar indulgencias na igreja, mulher!... Isto s?o preparos, mulher?... Um
do purgatorio? E Deus nos queira dar só o purgatorio e livrar-nos das penas do inferno. Que muito mal fazemos por lhe merecer misericordia! Ora que n?o ha de uma pessoa poder ter as suas devo??es, que n?o venha encontrar lamurias em casa! ó minha rica M?e do céo, seja para desconto dos meus peccados! Sume-te, inimigo mau! E eu que deixei de rezarr, a vêr se gostavam. Ora, senhores, que é forte desgra?a a minha! Mulher, a religi?o manda que olhemos pelo nosso cadaver. é má christ? a mulher que deixa
sa cara. Olha agora! Eu queria vêr-te com o trabalho do sr. padre Dom
é parolar
doido, alm
le n?o leva marm
o S. Francisco, ainda
orias; com jejuns ninguem en
. Ha por ahi umas certas capellas, onde passa tambem bastante tempo em devo??o; emquanto á comadre, acredite o que lhe digo: a palavra de Deus n?o é t?o difficil, que uma pessoa precise de estar tanto tempo a ouvil-a explicar. Eu cá penso que, fazendo a gente aquillo que lhe diz o cor
digam deante de uma crean?a de doze annos? Ande lá, ande lá... Ora Deus queira que lhe n?o encontre ainda o pago.
n?o corteje; reza todas as manh?s a ora??o, que a m?e lhe ensinou, o Padre-Nosso e a Ave-Maria, onde se diz tudo o que se deve dizer a Deus; de dia
soberbas! E cautela com o mimo que dá á
o de repentes é que hei de dar mimo a esta
eixar andar a rapariga com esses cabellos soltos? N?o sabe que o
a comadre rapou os seus? Ah! ah! Tem coisas! é teima velha! Eu já lhe disse, comadre: Deus, que deu á
tenta??es, para q
e como os da minha Ermelinda, hein! Cortar os cabellos á minha filha, eu?! fazer
inda se a
da Virgem, se pintam anjos, como a minha pequena, e n?o
inteiramente insensivel ao remoque do compadre. Azedou-se-lhe o humor, e, voltando-se par
jantar! Deixar assim uma crean?a fazer uma fogueira d'es
pequeno cavaco, par
da. Augusto continuava ex
o movimento dos labios austeramente contrahidos; tremia ao escutar-lhe a voz aguda e penetrante, falando nas penas do inferno; chorava á menor reprehens?o que d'ella recebia, e comtudo amava-a, amava-a, porque Ermelinda na sua candura de crean?a, suppunha a madrinha uma santa; avultavam-lhe, como virtudes beatificantes, os defeitos da devota velha; a innocente julgava-se uma grande peccadora q
que exercem sobre a infancia o
press?o sob a qual esta
a pequena medalha com um retrato.-é um presente do
com n?o reprimido alvoro?
medalha um olhar obliqu
to exaggerado.-Este homem n?o tem a cabe?a no seu logar, por mais que me di
ch?o, e com os olhos chammejantes e as faces injectadas, voci
mais pela crean?a, de quem é aquelle retrato, do que por quantos sotainas lhe ouvem os seus peccados todas as semanas e por quantas beatas andam comsigo a dar marradas no lagêdo da igreja. Faz
ue outro, além d'elle, dissesse d'aquellas verdades á mulher; por isso, ouvindo-as, através dos sonidos que
nto... Ora, senhores, que é forte coisa! Compadre!... veja que eu é que sou aqui o chefe da
nas faces; a irrita??o rompera os diques da cordura e amea?ava engross
que bem precisa... N?o basta dar á lingua.
abstinha-se ago
a tremer, abra?ou o
contenda, conheceu emfim que precisava
dos contendores, a um o
apazigual-os. Deram-se mutuas satisfa
se com Jo?o Canc
o-se cêdo entre elles a interm