Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo 08
?es peregrinas na estrada infinita da civilisa??o se lan?am rapidamente para o futuro, for?oso é que essa idéa se incarne em todos os modos d'existir das sociedades, e que cada um delles sirva para a
dias das na??es s?o os annos, em quanto os annos para os individuos s?o a vida: o sepulchro rareia de hora a hora as fileiras dos defensores das institui??es decrépitas; de hora a hora engrossa o ber?o as alas dos que pelejam sob o estandarte da esperan?a. Assim o progresso social, lento e imperceptivel muitas vezes para os individuos, é rápido para as na??es. A todos os
transforma??o é representada por essa classe que, por isso, é forte e dominadora e para ella e por ella se tra?am e aperfei?oam institui??es e leis. Como, com raz?o, diziam ha um seculo Luiz XIV e D. Jo?o v-l'etat c'est moi-com raz?o diz hoje o mesmo de si a classe média. Virá um dia em que o predominio desta classe se converta em violencia e oppress?o, soando para ella a sua hora de morrer, quando a idéa geradora do progresso presente se corrompa e envelhe?a nas suas m?os. Que grande pensamento social surgirá ent?o? N?o o sei; n
de um povo chamado estado social. A terra agricultada liberta-se, o privilégio annulla-se, o ócio condemna-se, a economia proclama-se, a indústria nobilita-se, o engenho tem emfim seu pre?o e valia. Visivelmente a na??o faz-se burguesa. Ha todavia ahi uma modalidade, uma face da sociedade importantissima, direi antes capital, que esqueceu nas m?os do tempo que passou, e que est
fabris; e ainda o alfageme que temperava uma boa espada se tinha por homem de maior conta que o clérigo a cujo cargo estava o notar ou escrever os contractos, as missivas ou as memorias dos reis ou das familias. Quem vê um velho códice do século XIII ou XIV até nelle acha um emblema daquellas épochas: as bíblias, as decretaes ou as obras dos sanctos padres, que quasi exclusivamente constituíam a sciencia d'ent?o, tinham certo aspecto guerreiro e de for?a physica: as pranchas de carvalho ou castanho que lhes serviam de guardas; os bronzes ou ferragens que os adornavam, e o seu volume e peso enorme os tornavam, e
ferro sobre o gorjal estalado: debalde ella se revolveu e escumou trabalhando por erguer-se para combater: no fim desse mesmo século já a lucta era i
a pedra angular do absolutismo na lei mental, foi tambem quem come?ou a dar ao seu país um impulso litterario, e D. Jo?o II que em politica p?s o remate ao edificio come?ado por seu bisav?, e levou igualmente as letras ao grau de esplendor a qu
iencia do mundo material, onde apparece ella durante esse largo período? Apenas na eschola de Sagres. Todavia que livro ou que homem produziu essa eschola? Nenhum. Os nomes que figuram por aquelles tempos pertencem unicamente á mathematica, e na mathematica especialmente á astronomia. Ainda assim os sabedores conspícuos neste ramo de uma vasta sciencia eram quasi todos judeus e raros estrangeiros, devendo-se o incremento que ella teve, pordourada que elles lhes offereciam, e que ao mesmo tempo o vulgo sentisse pesar sobre si, ignorante e grosseiro, intelligencias puras e formosas de quanta formosura ha no mundo moral; e bemdissesse o predominio dellas, porque a grande logica popular lhe dizia que effectivamente ellas deviam predominar. é por isso que a monarchia absoluta em toda a parte e em todo o tempo, em que se n?o converteu em tyrannia bruta e feroz, foi sempre intellectual, mas de uma intellectualidade perfumada, macia e brilhante, de uma intellectualidade estéril, porque applicada exclusivamente ao especulativo; intellectualidade de sala, de theatro, de galeria, de púlpito, de foro; intellectualidade boa e moral, que derrama lagrymas e esmolas sobre os miseráveis, mas que lhes recusa o baptismo da instruc??o material, que n?o os obriga a trabalhar, nem os pune quando elles o recusam, nem promove o aperfei?o
a e descuidada. é por isso que, considerando attentamente a historia da instruc??o pública entre nós, vemos nella as tendencias exclusivamente litterarias, no sentido restricto desta palavra. Na reforma dos estudos de D. Jo?o III, de D. Jo?o IV, do marque
s oppostas a ellas, poderá esta fórmula social, este baptismo da civilisa??o, chamado instruc??o pública, seguir um rit
tudo gemeu, gritou e grasnou insultos, pondera??es, reflex?es eruditas, argumentadas, soporíferas. Foi um rebate geral em nome do digesto e dos supinos, dos canones e da syntaxe figurada, da exegese e dos affectos oratorios, da gra?a efficaz e do Humano capiti cervicem pictor equinam, do código theodosiano e das sorites de Genovesi. N?o houve remédio; a campa caíu sobre a physica, a chimica, a botanica, a mathematica, a astronomia, e em cima
ue ura homem de sciencia renegasse della
o. Por outra parte na lei de 17 de novembro evidentemente se dá o primeiro golpe no velho systema da instruc??o secundaria, e se nesta lei n?o se revela todo o esfor?o necessario para derrubar um collosso que se apoia em preocupa??es insensatas, a circumstancia de ser primeira tentativa absolve completamente seu auctor. Assim mesmo ella foi sophismada e inutilisada: os lyceus nunca se organisaram, e o latim e a rhetorica encantoados por toda a parte como dantes, riem-se da lei que os aposentava nas capitaes dos districtos: diariamente se pedem á camara dos deputados cadeiras de latim: parece que os agricultores de Portugal, como o Triptolemo d'Walter
e este importante ou antes principal ramo d'administra??o, diversifiquem das do illustre Auctor daquelle projecto, todavia n?o posso deixar de considerar esse trabalho, nas suas disposi??es fundamentaes, como a cousa incomparavelmente melhor que ácerca de tal objecto appareceu entre nós. Se n?o se attender sen?o á generalidade delle, pode-s
endimentos mais robustos, o trabalhar na lei ou leis das escholas especiaes. Tinhamos nós entendido que a actual divis?o d'ensino primario, secundario e superior, é arbitrária, e n?o tem fundamento nem na organisa??o presente da sociedade, nem na natureza do que se chama saber humano. A hierarchia na instruc??o pública é um anachro
s, que relativamente ao ensino geral se achavam quasi promptos, esperando tempo mais favoravel a pensamentos de verdadeiro e judicioso progresso. Quando
umstancias f?ra apenas louco e ridiculo, mas que apresentado na occasi?o em que os foraes ousam vir perante uma camara legislativa, (como o jumento trajando a pelle do le?o, cubertos com o manto da justi?a,) tem u
uest?o entre a educa??o e melhoramento dos agricultores, dos artifices, dos fabricantes e a propaga??o dos causídicos, dos casuistas, dos pedantes; quest?o entre o trabalho e o ócio; qu
Prussia) cujas leis sobre instruc??o nacional s?o admiravelmente adaptadas ao governo representativo, tê-lo-ha for?osamente para as gera??es futuras, mas sem convuls?es nem ruido, e que uma monarchia mista como a nossa, que conservar o systema de ensino público creado pelo absolutismo, e só para o absolutismo conveniente, terá
ndústria; conservatorios d'artes e officios para o aperfei?oamento dos individuos que se d?o ás artes fabris? S?o porventura ilotas os homens d'ac??o e espartanos só os homens d'especula??o? S?o porventura aquelles membros inúteis do corpo social, e estes os que os sustentam? Sobre cujos hombros pesa o maior vulto dos impostos d'ouro, de trabalho e de sangue? E que obriga??o tem a grande maioria dos contribuintes de suarem e tressuarem para que se hajam de conservar os grandes estabelecimentos da chamada instruc??o superior, e no
uc??o pública é um arroteamento, e embora na terra cultivada de novo haja um cantinho para flores, é certo que as searas, as pastagens, as mattas e os pomares s?o o principal objecto dos cuidados de um bom administrador: de tudo o que nas sciencias e nas letras é puramente intellectual se comp?e o ja
ortugal de riquezas; quando D. Jo?o V comprava a Roma, a venal, as pompas pontificaes para alegrar seus ócios; quando este principe, émulo de Luiz XIV, incumbia ás artes bastardas e corruptas do seu tempo que lhe erguessem a magnífica ninharia de Mafra, ent?o era preciso entulhar de frades, de capell?es, de cónegos, de monsenhores, de principaes, d'escribas, de desembargadores, de caturras, de rimadores d'epithalamios e de elegias, d'oradores academicamente impertinentes, o insondavel sorvedouro das inutilidades públicas. Como dout
devem dirigir-se para um solo fértil, visitado pela ben??o de Deus; para a intelligencia nacional, de que a providencia n?o foi esca?a comnosco. Para converter aquella em manancial de riqueza, e esta em instrumento de prosperida
. A consequencia deste estado de cultura intellectual, falsa, inapplicavel e violenta, é que as muitas esperan?as mentidas, as muitas ambi??es recalcadas, todos os annos arremessam para a arena dos bandos civis centenares de cora??es generosos, que insoffridos ante um prospecto de miseria, se arrojam ás lides politicas, para perecerem ou prearem no cadaver defecado do património da república. E ainda o mal seria menor se ao lado desta decep??o houvesse alguma grande verdade: se uma eschola d'applica??o materi
uta gente: Lasciate ogni
v?o medidos pelos sonhos de Nero e revestidos do carácter de Judas; porque tomando a mocidade inteira c
nte productivas e industriaes. O que se chama instruc??o secundária n?o é nem pode ser sen?o uma dependencia universitaria, e posto que espalhada pelo país, devia reduzir-se e conter-se de certo modo no g
d'officinas, dos proprietarios ou rendeiros ruraes. E esta a dos operarios, no sentido mais vasto e completo da palavra. Para a instruc??o de similhante classe é qu
mentos qual é o ensino que vós offereceis ao homem do povo? Que fonte de vida intellectual e moral pusestes vós na estrada da sua laboriosa peregrina??o na terra? Um Eutropio e um Quintiliano. E que lhe importa a elle o vosso Eutropio e o vosso Quintiliano? O que elle vos agradecera f?ra que o habilitasseis com os elementos das sciencias naturaes, accommodados tanto á sua capacidade como aos seus destinos: que lhe revelasseis os conhecimentos applicaveis á vida material: que lhe ensinasseis o desenho linear, a geometria práctica, os rudimentos e factos importantes da physica, da chimica, da botani
e o ensino primario elementar é um dever e ao mesmo tempo uma propriedade de todos; do nobre e do humilde; do abastado e do pobre; e o ensino especial é a educa??o de classes excepcionaes, limitadas, diminutas. Urge que essas escholas se instituam, e se n
technica, facil lhes é de adquirir sem mestres, ou noutra parte. é por isso; é porque creio e espero na regenera??o intellectual e moral do povo português, por meio dum novo systema d'instruc??o pública, ao qual pertence e de que hoje é única representante a eschola polytechnica, que eu respeito esta, e a defendi e
e preparatorios para estudos militares. A verdade é que a sua organisa??o e a natureza das materias nella ensinadas a constituem principalmente uma eschola central. Que importa a denomina??o da
ica. Tinha-me completamente esquecido disso, aliás n?o escrevera o que fica escripto. F?ra contradic??o flagrante com minhas opini?es
ecto de luxo e o extincto collegio uma necessidade. Para ventres insaciaveis, para gastrónomos, sem dúvida: para a verdadeira instruc??o, para a instruc??o de
noviciado da Cotovia á dota??o do collegio f?ra um bom e judicioso pensamento, e deu a raz?o: porque assim ao menos n?o se estragaram e perderam esses bens. Daqui se vê que a me
n?o teem
collegio: porque os fins da sua crea??o se adaptavam á monarchia absoluta:
ouropel, foi desde o seu princípio o que lhe chamou a commiss?o, uma excrescencia litteraria, uma enxertia aleijada, um membro monstruoso no corpo da instruc??o secundária, da propria instruc??o secundária dos tempos
go; por isso chamarei a juizo
tinha apenas 11 annos d'existencia. A segunda testemunha é o célebre professor de philosophia, Bento José de Sousa Farinha, o qual em uma memoria que sobre este estabelecimento dirigiu a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, faz reflex?es mui judiciosas ácerca delle, suppostas as idéas daquelle tempo, e pinta com vehemencia as desordens, o luxo espantoso e a falta de educa??o litteraria, que ahi reinavam: lamenta as sommas enormes que se despendiam com
omo isso f?ra uma inutilidade, visto estar ella impressa, que os homens entendidos na materia leiam essa farragem, se pudere
o me violentarem fortemente, n?o deixarei de examinar, antes de p?r termo a este