icon 0
icon TOP UP
rightIcon
icon Reading History
rightIcon
icon Log out
rightIcon
icon Get the APP
rightIcon
Os fidalgos da Casa Mourisca Chronica da aldeia

Os fidalgos da Casa Mourisca Chronica da aldeia

icon

Chapter 1 No.1

Word Count: 5041    |    Released on: 06/12/2017

os de historia patria, n?o se remonta além

da Mourama. Os vultos heroicos de reis e cavalleiros nossos, que se assignalaram nas luctas d'essa época, ainda n?o desappareceram das chronicas oraes, onde vivem illuminados por a mesma poetica luz das xacaras e dos romances nacionaes; e hoje ainda, nas

auditorio attento que segue com os olhos a lua em silenciosa carreira por um céo sem estrellas, avulta uma crea??o extremamente sympathica, a das mouras encantadas, pr

ren?a, de thesouros enterrados, que os mouros por ahi deixaram, na esperan?a de voltarem um dia a

familia, distincto dos edificios communs por uma qualquer particularidade architectonica mais saliente, ouvireis no sitio designal-o por o nome de Casa

illar de Corvos, que, em tres leguas em redondo, eram po

tro angulos do edificio, ao desenho ogival das portas e janellas, ás estreitas setteiras abertas nos muros, e finalmente a certo ar de castello feudal, que um dos antepassados d'esta fidalga familia tentou dar aos pa?os de sua residencia senhoril, devêra ella a qualifica??o de mourisca, que p

a da estrada irregular por onde se vinha á aldeia, via surgir de repente do seio de um arvoredo secular aquelle vulto escuro e sombrio, contrastando com os branc

e desenhassem como negra dentadura no céo azul, alumiado pela claridade matinal, era

-lhe aqui e além uma ameia ou um balaustre do eirado, mutilára-lhe a cruz da capella, desconjunctára-lhe a cantaria em extensos lan?os de muro, abrindo-lhe intersticios, d'onde irrompia uma inutil

a??es sobre a familia que alli habitava, obtel-as-ia propri

genario, grave, severo, e taciturno; Jorge e Mauricio, os seus dois filhos, robustos e

as propriedades com hypothecas e contractos ruinosos, desfallecer a cultura nos campos, empobrecer os celleiros, despovoar os curraes, exhaurir a seiva

f?ra pelos paes destinado para a carreira diplomatica, na qual ent

algo provinciano um grau de illustra??o e de tracto do mundo, um verniz so

a??o dos seus primeiros annos de mocidade, como o mais instruido e civilisado proprietario da sua provincia

as c?rtes estrangeiras, n?o abandonou a carreira que encetára. Secretario de embaixada em Vienna, casou al

social do paiz, D. Luiz mostrou-se logo hostil ao movimento nascente, e abandonando ent?o o seu loga

dos desgostos domesticos, que

a esposa abra?ara

erindo assim no intimo os affectos mais sanctos da pobre senhora, que sentia esmagar-se-lh

da mais longe em D. Luiz.

ia de uma convic??o sincera, sustentára com a penna, e mais tarde com a espa

as sombras das suspeitas e das vingan?as politicas; e D. Luiz,

estremecia; mas nem as supplicas, nem as lagrima

o crime de pensar livremente. Conseguindo, quasi por milagre, escapar á furia dos seus perseguidores, emigrou para vo

eral, por que tanto anhelava, cahiu em uma das ultimas e mais disputadas refregas d'aquella sanguinolenta lucta, crivado de ba

l e extremoso da infeliz senhora recebeu ent?o um golpe decisivo; das consequencias d'aquell

rovincia os seus despeitos, os seus odios e os seus desalentos. Trouxe comsigo um enxame de misanthropos, a quem o sol da li

e muitos correligionarios, como elle desgostosos

itico, que n?o poucas vezes attrahiu as vistas dos liberaes desconfiados e as amea?as dos ma

o querer saber, qual o pre?o por que ella lhe ficava. Indifferente a tudo

a da sua situa??o precaria, e por ventura ainda remorsos pelas violencias, a que os odios politicos o impelliram, quebrantaram o caracter, outr'ora varonil, d'aquelle homem, que desde ent?o come?ou a mostrar-se taciturno e descoro?oado. A prova evidente de que alguns remorsos tambem lhe tortura

do irm?o que lh'a enviára, quando já agonisante no campo do combate. Havi

aber as menores particularidades da vida e da morte do infeliz, de quem o emissario f?ra companheiro inseparavel. N?o se limitou a isso a tolerancia do fidalgo. Viu, sem a menor reflex?o, que o

de n?o pequena influencia no

rovincia, cresciam sob influencias que actuavam d'uma m

algo, refugio de tantos illustres descontentes. Gra?as a estas especiaes condi??es, puderam os dois rap

r-lhes os seus principios politicos, aos quaes se atinham como a artigos de fé, havia uma

om pezar os excessos, a que o impelliam as suas opini?es politicas. Educada no seio de uma familia liberal, possuia

ebendo a doutrina, de que os outros lhes blasphemavam como de heresias, e naturalmente, seduzidas pela origem d'onde el

racter e da sua dedica??o heroica a bem da causa liberal, que elles, e o mais velho sobre tudo, costumaram-se a ven

oncorreu mais que

anhas d'aquelles tempos historicos e um panegyrista arde

eira por que elle fallava dos trabalhos da emigra??o, dos episodios do cerco do Porto, da fome, da peste e da guerra, triplice calamidade que conhecêra de perto, das batalhas em que havia entrado, da

nterrogar aquella testemunha pre

s da educa??o dos filhos de D. Luiz, e estes iam crescendo affei?oados aos

va??o estavam reserva

tivera no voluntario desterro, a que se condemno

esde muito a procuradores todos os cuidados de administra??o, e de quando em quando recebia d'elles a noticia de que a sua ca

de letras gordas, que se estabelecêra commodamente n'aquella acas

a de cada vez mais onerada a propriedade e mais irremediavel o triste futuro d'ella. Succedeu pois o que era de esperar. Dispersou-se a c?rte de D. Luiz. Por muito que fizessem os administradores da casa para a manter no costumado esplendor, cêdo principiaram a transparecer os signaes da declina??o. Foi o aviso para a debanda

isolamento a tacitu

ostos, até escondia as lagrimas, que elle lhe fazia verter; veio essa nova d?r atribular-lhe ainda mais a existe

tinuava no mundo. Queria-lhe muito o pae! Se n?o havia de querer! O cora??o árido d'aquelle ve

??o, vazio de affectos, queimado de odios e de paix?es esterilisadoras, sentia um grato refrigerio em deixar-se penetrar do suave influxo das caricias da crian?a, que beijava as faces rugosas

e que experimenta

penetrante e um gesto grave como o d'elle, um espirito para communicar á vontade com o seu. Ella parecia comprehender o alcance do auxilio que poderia receber u

ceno da fragil e delicada creatura, em quem um estouvamento seu desafiava la

ilha feriu o Senh

a morte, ainda com o sorriso nos la

véras escuro no

sorvia os instantes d'aquelles tres homens, a quem todos tres tributavam os seus mais puros affectos e os seus pensamentos mais constantes, desapparecêra, e elles olhavam-se

te em Mauricio; e para todos o nome de Beatriz, a recorda??o dos seus gestos, das suas palavras, era um talisman, cuja efficacia nunca s

s, Beatriz vivia ainda

immortalidade, á maneira da luz sideral, que continua a sci

dispensavel, e a companhia exclusiva de D. Luiz, que

elle, o padre Januario passava a vida aproveitando os mais ridiculos ensejos para premissas dos seus corollarios ant

aveis effeitos analepticos. Podia dizer-se que elle dividia alli o tempo entre

ario exasperava-se sempre que o ouvia fallar no Imperador e no Cerco e nos Voluntarios da Rainha e na Carta, com o enthusiasmo e a emphase de um soldado d'aquelles tempos. P

veterano, satisfazia a um pedido da esposa, e n?o teria coragem para fazer o contrario. Assim perpetuavam-se os conflictos en

a Casa Mourisca na época em que

dois jovens filhos de D. Luiz. A educa??o que ell

e assalariarem em defeza dos principios e das institui??es que abalaram os velhos thronos, firmados no direito divino. Nobre era tambem a carreira ecclesiastica, que muitos dos seus antepassados haviam trilhado, apoiados no baculo episcopal; mas se D. Luiz e

immedia??es, e fruindo em sancto ocio uma vida, cujos espinhos todos procuravam occultar-lhe

esprevenidos; porque de crian?a era diverso o caracter do

re uma sauda??o affectuosa, casta e quasi paternal a que lhes dirigia, ainda quando as encontrasse a sós nas veredas mais solitarias das devezas ou pinheiraes. Ellas habituaram-se áquella juvenil seriedade, saudavam-n'o como a um velho, fallavam d'elle com acatamento, certas de encontrarem n'aquelle silencioso rapaz um protector na occasi?o p

ho temor ás mulheres, que se afastam d'ellas como de um se

medos de galanteio e mais o competente cortejo de arrufos e de ciumes. Desde ent?o nunca lhe andou o cora??o devoluto, ainda que ta

o conheciam, e elle a todas designava por os nomes. A

hi encontraram os dois rapazes farto alimento para a sua curiosidade. Jorge lia tambem furtivamente os poucos livros, espolio do tio fallecido, os quaes o hortel?o guardára como reliquia, furtando-os ao auto de fé a que os condemnaria inevi

po desapercebidos os numerosos symptomas da decadencia que apresentava a Casa Mourisca.

eis, dos seus prazeres e das suas dissipa??es, allucinado por os sonhos e chimeras de uma fertil fantasia, e n?o profundava os olhos até o seio obscuro das realidades. A sua leitura

??o d'esse espectro, que, á semelhan?a da sombra do rei da Dinamarca,

nte, que já suppozemos parado a contemplar o vulto denegrid

iadas, assentava o mais risonho e prospero casal dos arredores. Era uma completa casa rus

Herdade e o velho

lleiro, uma azenha, um lagar; aos velhos carvalhos, ás heras vigorosas, aos avelludados musgos, aos lichens multicores, severas galas, com que se adornava a casa nobre, oppunha a Herdade os pomares productivos, as ondulantes searas, os prados verdes, as vinhas ferteis e proximo de casa, os canteiros de rosas e balsaminas, onde volteavam incessantes as abelhas das colmeias proximas. Nas amplas cavallari?as do palacio, onde outr'ora relinchavam duzias de cavallos das mais apuradas ra?as, ai

circumstancia que evocava no espirito

casal, mais tarde arrendára uma fazenda maior; chegando emfim a ser proprietario, tornára-se em pouco tempo poss

va o palacio? Se de t?o pouco se chegára a ta

o, em uma das torres do palacio, ou do alto de alguma eminencia, observava a anima??o, a vida da propriedade do seu

Claim Your Bonus at the APP

Open