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A Cidade e as Serras

Chapter 7 7

Word Count: 5088    |    Released on: 30/11/2017

e da Carne. Mas, de repente, Jacintho come?ou a rogar e a reclamar que o seu Zé Fernandes o acompanhasse, todas as tardes, a casa de Madame d'Oriol! E eu comprehendi que o meu Principe (á mane

s pelles de feras estiradas aos pés de sophás adormecedores, e os biombos de Aubusson formando alc?vas favoraveis e languidas... Aninhada n'uma cadeira de bambú lacada de branco, entre almofadas aromatisadas de verbena da India, com um romance pousado no rega?o, ella esperava o seu amigo, n'uma certa indolencia passiva e mansa que me lembrava sempre o Oriente e um Harem. Mas, pela

re os bra?os d'alguem a quem era constante. Ao meu Principe, n'esse anno, pertencia o sophá. E todos estes deveres de Cidade e de Casta os cumpria sorrindo. Tanto sorrira, desde casada, que já duas prégas lhe vincavam os cantos dos bei?os, indelevelmente. Mas nem na alma, nem na pelle, mostrava outras maculas de fadiga. A sua Agenda de Visitas continha mil e tresentos nomes, todos do Nobiliario. Através, porém, desta fulgurante sociabilidade arranjára no cerebro (onde de certo penetrára o pó d'arroz que desde o collegio acamava na testa) algumas Idéas Geraes. Em Politica era pelos Principes; e todos os outros ?horrores?, a Republica, o Socialismo, a Democracia que se n?o lava, os sacudia risonhamente, com um bater de leque. Na Semana Santa juntava ás rendas do chapeu a Cor?a amarga de espinhos-por serem esses, para a gente bem-nascida, dias de penitencia e d?r. E, deante de todo o Livro ou de todo o Quadro, se

o com que se sobem todos os Calvarios, os mais bem tapetados, que elle subia a escadaria de Madame d'Oriol, t?o suave e orlada de t?o frescas palmeiras. Quando a appetitosa creatura, com dedica??o, para o entreter, desdobrava a sua vivacidade como um pav?o desdobra a cauda, o meu pobre Principe puxav

telegrapho, atirando algum recado molle pelo telephone, espalhando o olhar desalentado sobre o saber immenso dos trinta mil liv

hoje seis ou sete coisas, mas n?o posso, é uma secca! Vamos a casa de

orque Jacintho m'o mostrára uma noite, no Grand Café, ceiando com dan?arinas do Moulin Rouge. Era um mo?o gordalhufo, indolente, de uma brancura crúa de toucinho, com uma calvice já séria e já lustrosa, constantemente acarici

Joanna em pessima disposi??o..

sperado á luva c?r d

em Paris, com conhecimento de todo o Paris, seja a amante do trintanario. Amantes na nossa roda, vá! Um lacaio, n?o!... Se quer dormir com os cr

meu Principe, immovel nos degraus, de face pendida, cofiava lentamente os fios pendidos do bigod

ra suba

ia, para a minha appetecida

um café com leite que me sabia a fava, um banho de tina que me cheirava a l?do. Oito vezes travei bulhas abominaveis na rua com cocheiros que me espoliavam. Perdi uma chapelleira, quinze len?os, tres ceroulas, e duas botas, uma branca, outra envernizada, ambas do pé direito. Em mais de trinta mezas-redondas esperei tristonhamente que me chegasse o boeuf-a-la-mode, já frio, com m?lho coalhado-e que o copeiro me trouxesse a garrafa de Bordeus que eu provava e repellia com desditosa carantonha. Percorri, na fresca penumbra dos granitos e dos marmores, com pé respeitoso

o alvoro?o as cortinas de seda ainda fechadas do meu 202! Affaguei o hombro do Porteiro. No patamar

acin

u, d'entre os altos,

Era o contracto de casamento de Mademoiselle de Loches... Ainda tomou antes de se

do e quentinho dentro do roup?o de velludo, rompi pel

Jaci

iajan

?r de malva orlada de pelles de martha, com os pellos do bigode murchos, as suas duas rugas mais cavadas, uma molleza nos hom

tho... Ent?o c

deu, muito

um m

da leve, como se o

ecidot

e eu compadecido de novo o abracei, o estreitei, como para lhe comm

vida especial de Jacintho continha todos os interesses e todas as facilidades, possiveis no seculo XIX, n'uma vida de homem que n?o é um Genio, nem um Santo. Com effeito! Apezar do appetite embotado por doze annos de Champagnes e m?lhos ricos elle conservava a sua rijeza de pinheiro bravo; na luz da sua intelligencia n?o apparecêra nem tremor nem morr?o; a boa terra de Portugal, e algumas Companhias macissas, pontualmente lhe forneciam a sua doce centena de contos; sempre activas e sempre fieis o

imalidade penetrára na humanidade, despontára n'elle esse fermento de tristeza, muito tempo indesenvolvido no tumulto das primeiras curiosidades, e que depois alastrára, o invadira todo, se lhe tornára consubstancial e como o sangue das suas veias. Soffrer portanto era inseparavel de Viver. Soffrimentos differentes nos destinos differentes da Vida. Na turba dos humanos é a angustiada lucta pelo p?o, pelo tecto, pelo lume; n'uma

as delicias mais triumphaes, se resumia em Illus?o. Já o Rei incomparavel, de sapiencia divina, summo Vencedor, summo Edificador, se enfastiava, bocejava, entre os despojos das suas conquistas, e os marmores novos dos seus Templos, e as suas tres mil concubinas, e as Rainhas que subiam do fundo da Ethiopia para que elle as fecundasse e no seu ventre depozésse um Deus! N?o ha

enhauer-emquanto o pedicuro, ajoelhado sobre o tapete, lhe polia com respeito e pericia as unhas dos pés. Ao lado pousava a chavena de Saxe, cheia d'esse café de Moka enviado por emires do Deserto, que n?o o contentava nunca, nem pela for?a, nem pelo aroma. A espa?os pousava o livro no peito, resvalava um olhar

a Vida! E para que a podésse maldizer em todas as suas fórmas, as mais ricas, as mais intellectuaes, as mais puras, sobrecarregou

, os moveis, as luzes, as lou?as, os crystaes, os gelados, os Champagnes, e até (por uma inven??o da Alta-Cozinha) os peixes, e as carnes, e os legumes, que os escudeiros serviam, empoados de pó rosado, com librés da c?r da rosa, em quanto do tecto, d

om o major Dorchas, e Mayolle, e o Hindù de Mayolle penetrou no Theosophismo: e montou tremendas experiencias para verificar a mysteriosa exteriorisa??o da motilid

Zé Fernandes? Uma massada!?-Arrebatava ent?o o seu Ecclesiastes, o seu Schopenhauer, e, estendido no sophá, saboreava voluptuosamente a concordancia da Doutrina e da Experiencia.

. E a sua abominavel func??o de novo se limitou a bocejar, a passar os dedos molles sobre a face pendida palpando a caveira. Incessantemente alludia á morte como a uma liberta??o. Uma tarde mesmo, no melancolico crepusculo da Bibliotheca, antes de refulgirem as luzes, consideravelmen

ial offerecida por um Povo-como se estenderia n'uma poltrona r?ta para emmudecer e jazer. Sendo tudo inutil, e n?o conduzindo sen?o a maior desillus?o, que podia importar a mais rutilante actividade ou a mais desgostada inercia? O seu gesto constante, que me irritava, era encolher os hombros. Perante

rta de Madame de Trèves, um a?afate de camelias, azaleas, orchideas e lyrios do valle. E foi este mimo que lhe

quatro annos que eu

o 202 o Champagne do ?Natalicio?-elle recusou, com o nariz enoja

a ninguem. Abalei para o campo,

um preito da Cidade. Outras fl?res que vieram, em vistosos cestos, com vistosos la?os, foram por elle comparadas ás que se dep?e sobre uma tumba. E apenas

na poltrona, com umas tesouras, recortava um papel! E nunca eu me compadeci d'aquelle amigo, que can?ára a mocidade a accumular todas as no??es formuladas desde Aristoteles e a juntar todos os inventos realisados desde Thar

Jacintho accedeu-e um escudeiro acercou logo a meza de Ephraim para que nós lhe estreassemos os servi?os destros. Mas o meu Principe, depois de a altear, para meu espanto, até aos crystaes do lustre, n?o conseguiu, apezar de uma suada e desesperada batalha com as molas, que a meza regressasse a uma altura humana e cazeira. E o escudeiro de novo a levou, levantada como um andaime, chimerica, unicamente aproveitavel para o gigante Adamastor.

silencio, murmurei, com

es? A egreja... Já

mára o papel

ta do Silverio... Nem imagino onde p

roz d?ce, com as iniciaes de Jacintho e a data ditosa em canella, á moda amavel da nossa meiga terra. E o meu Principe á meza

tem dúvida... Excellente lembran?a! Ha que tem

parecia sob os fructos seccos que o revestiam até ao cimo, onde se equilibrava uma cor?a de Conde feita de chocolate e gomos de tangerina gelada! E as iniciaes, a data, t?o lindas e graves na canella

, aos nos

m lar! Na minha aldeia, entre cêrro e valle, talvez assim rugisse a tormenta. Mas ahi cada pobre, sob o abrigo da sua telha v?, com a sua panella atestada de couves, se agacha no seu mantéo ao calor da lareira. E para os que n?o tenham lenha ou couve, lá

a-jornaes de Paris, jornaes de Londres, Semanarios, Magazines, Revistas, Illustra??es... Jacintho desdobrava, arremessava: das Revistas espreitava o

ca... N?o

m olhar imperativo e duro, como se intimasse aquelle seu 202, t?o abarrotado de Civilisa??o, a que por um momento sequer fornecesse á sua alma um interesse vivo, á sua vid

diometro, o seu Graphophono, o seu Microphono, a sua Machina d'Escrever, a sua Machina de Contar, a sua Imprensa Electrica, a outra Magnetica, todos os seus utensilios, todos os seus tubos, todos os seus fios... As

u na Revolu??o Franceza d'onde se arredou desencantado: e palpou com m?o indeliberada toda a vasta Grecia desde a crea??o de Athenas até a aniquila??o de Corintho. Mas bruscamente virou para a fila dos Poetas, que reluziam em marroquins claros, mostrando, sobre a lombada, em ouro, nos titulos fortes ou languidos, o interior das suas almas. N?o appeteceu nenhuma d'essas seis mil almas-e recuou, desconsolado, até aos Biologos... T?o massi?a e cerrada era a estante de Biologia que o meu pobre Jacintho estarreceu, como ante uma cidadella inaccessivel! Rolou a escada-e, fugindo, trepou, até ás alturas da Astronomia: destacou astros, recollocou mundos: todo um Systema Solar desabou com fragor. Aturdido, desceu, come?ou a procurar por sobre as rimas das obras novas, ainda brochadas, nas suas roupas leves de combate. A

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